Observações médicas e meteorológicas, do ano de 1806, n.º 17.
Nível de descrição
Unidade de instalação
Código de referência
PT/AHALM/CMALM/P-D/001/0015
Tipo de título
Formal
Título
Observações médicas e meteorológicas, do ano de 1806, n.º 17.
Datas de produção
1806-01-01
a
1807
Dimensão e suporte
1 liv. (15 f.: 15 f. ms. não num., 349 x 225 x 3 mm); papel.
Âmbito e conteúdo
No diário médico do ano de 1806, o médico Dr. José Joaquim Alvares, inicia a sua exposição, relatando algumas situações clínicas, entre as quais, a de: António da Costa, 25 anos, de idade, temperamento pituitoso, em que o consultou, queixando-se, de uma tosse seca, existente há muito tempo, voz rouca, magro, e o pulso não tinha muita frequência, porém, pequeno e mole, língua branca, carregada de vícios e sem gosto, na boca. Receitou: cozimento de espécies peitorais, de forma a usar remédios mais eficazes.Desde o dia da sua primeira visita ao doente (dia 25 de janeiro), até ao dia 28, receitou seropulo de ipecacuanha, dado em porções de 6 grãos. No dia 31, verificou que não tinha melhorado o apetite, e a afonia era a mesma, a cara e o ventre inchados e, tendo em conta, a extensão da moléstia, considerou que a existência de glândulas, no peito e no baixo ventre, e desta forma, decidiu utilizar incisivos fortes, acompanhados de sais neutros. Estes remédios duraram até ao dia 12 de fevereiro, período em que lhe fez tomar fumigações (conceito: exposição de uma parte do corpo à ação de vapores de substancias medicinais) de plantas peitorais emolientes, através de um tubo que passasse pelo peito. Concluiu que nenhum remédio fez qualquer efeito favorável; pelo contrário, provocaram diminuição de forças do doente, causando agravamento da doença. A febre, a falta de apetite e a expetoração aumentaram.No dia 13 de fevereiro, receitou um evacuante emético tartico, dado que a língua estava viciosa e o ventre tardo; no dia 14, colocou o doente, no uso de cozimento peitoral, com quina, xarope de diacódio, com xarope balsâmico. Com este remédio, teve alguma melhoria. Contudo, as melhoras foram esporádicas, porque a natureza sucumbiu, ao fim de poucos dias. Passou a dar-lhe vesicatórios, tanto fixos, como volantes: leites asininos. Tudo isto foi infrutífero, pois a febre aumentou, a tosse, a afonia e expetoração também, e deste modo, no dia 10 de março, a natureza sucumbiu.[Im. 3027_0005, 3027_0006 e 3027_0007]Disponível em:http://www.m-almada.pt/arquivohistorico/viewer?id=4958&FileID=75349http://www.m-almada.pt/arquivohistorico/viewer?id=4958&FileID=75350http://www.m-almada.pt/arquivohistorico/viewer?id=4958&FileID=75351No dia 3 de maio, foi chamado à Trafaria, para ver José Francisco, 35 anos, de idade, vida exercitada, robusto, pletórico e, segundo informação dada pelo próprio doente, sofria de disenteria, havia mais de 2 meses, que, apanhando chuva, constipou-se, pelo que tomou algum remédio, para curar a mesma, e encontrando-se melhor da constipação; ficou de diarreia. Como este estado teve continuidade, consultou um cirurgião, que prescreveu algum remédio, para a suspender. Em virtude de o médico desconhecer qual o remédio dado ao doente, pois não havia receita nem conseguiu saber pelo cirurgião; contudo, calculou tratar-se de algum adstringente ou purgante drástico. De qualquer modo, o efeito foi contrário, porque, no fim da aplicação, além da diarreia, passou a ter dores, com deposição de matéria e sangue. Exteriormente, não sentia calor, porém, lamentava o calor que sentia interiormente, principalmente, na região epigástrica. Este calor impedia-o de respirar com facilidade. O pulso estava pequeno e muito frequente, muito mau gosto, na boca, e ansiedade. Mandou que fosse sangrado, o que lhe causou muito alívio, porém, de curta duração, o que foi determinante, para repetir a sangria; além disto, pediu que tomasse 12 gotas anódinas, em 2 colheres de cozimento de cevada. Com isto passou um pouco melhor. No dia 6, receitou-lhe 6 onças de água destilada de flor de sabugueiro, com 30 gotas de láudano líquido, em que dissolvesse 10 grãos de cânfora, e juntasse 1 onça de xarope de avenca, para tomar uma colher, de hora, em hora. Este remédio produziu tão bom efeito que, no outro dia, às 4 horas da tarde, quanto o visitou, já não tinha ansiedade, não sentia o calor que o devorava e o pulso estava bom e natural.[Im. 3027_0010, 3027_0011 e 3027_0012]Disponível em:http://www.m-almada.pt/arquivohistorico/viewer?id=4958&FileID=75354http://www.m-almada.pt/arquivohistorico/viewer?id=4958&FileID=75355http://www.m-almada.pt/arquivohistorico/viewer?id=4958&FileID=75356No dia 20 de junho, o médico foi chamado, para observar Joaquim José, 50 anos, de idade, vida bastante exercitada, magro, estando bem, repentinamente, foi atacado de uma hemiplegia (conceito: paralisia que atinge uma das metades do corpo), e afonia. Assim que o doente foi visto, o médico mandou fazer fricção pelo lado afetado, com tintura de cantaridas, pedilúvios bem quentes, e tomar algumas doses de tártaro emético desfeito em vinho. Estes remédios não surtiram efeito favorável, mais que algum movimento, no pé afetado. No dia 21, puseram-lhe um cáustico nas vértebras cervicais, e dois nas coxas e receitou infusão de Arnica; Angelica, e mandou juntar-lhe tintura de Valeriana Volátil, em pequenas doses, de 2, em 2 horas […]. No uso deste remédio por 8 dias, principiou a fazer alguns movimentos com o braço e perna. O tratamento continuou, as melhoras continuaram; porém, não articulando nenhuma palavra.Depois de ter tomado um remédio composto por: tintura de Valeriana Volátil, tintura de quina composta, a que juntou Alcali Volátil, melhorou, dado que, passados 3 dias de uso do referido remédio, o doente iniciou a pronúncia de algumas palavras […].Na sequência da doença ser prolongada e o doente ser de constituição débil e na presente moléstia, os sintomas de fastio, febre (provocando uma debilidade grande) e esta passou a carácter de contínua, passados 2 meses de moléstia, o doente movia-se imperfeitamente e pronunciava algumas palavras inteligíveis […]. Apesar de muita atenção e cuidado, e de usar dos digestivos mais fortes, como: cozimentos aromáticos, quina, bálsamos de arceo, mel egecino e outros, desta ordem, não foi possível curar, o que resultou: o doente passou a um estado de marasmo e a uma febre ética de supuração, que, tendo durado alguns meses, acabou por falecer.[Im. 3027_0013, 3027_0014 e 3027_0015]Disponível em:http://www.m-almada.pt/arquivohistorico/viewer?id=4958&FileID=75357Médico: José Joaquim Alvares.
Cota descritiva
3027.
Idioma e escrita
Português.